Sem remendo e
sem remédio
sobrou ao
pranto da aurora
uma promessa
impossível
quase-impulso, quase nada.
Sobrou aos
olhos das gentes
uma herança
coriforme
das cores
foscas de um dia
sem roxo, sem
madrugada.
Eu guardei da
fonte verde
uma gota de
absinto.
Eu trouxe um
sonho embrulhado
num papel de
celofane.
Eu trouxe um
resto de estrela,
um sopro lasso
de vento,
um breve canto
de grilo
e uma lasca de
topázio.
Sou num rastro
de esperança
uma espera,
espreita, espaço,
um dom em
forma de abraço,
sono, cena,
sina, som.
Eu vim de
esperança em riste
buscando os
olhos da amada,
buscando o
corpo da amada,
buscando um
sinal de sangue.
Sem remendo e
arremedo
procurei o
sim, o sempre.
Ouvi pela
noite inteira
um rouco
lamento sapo.
Sem remendo e
sem remédio
pernoitei um
pranto longo.
Vem de fora o
vento e o frio
uivando seu
desespero.
Onde mora, onde dorme
o belo corpo moreno?
Qual lençol me usurpa
o leve
rocejar de meus
desejos?
Qual lençol cobre o
seu corpo
de imensos cabelos
negros?
Que carícia lenta
eleva
seu corpo a rumos de
gozo.
Dormi na espera e no
choro,
cansado de tanta
espera.
Nada me resta.
Persisto.
Sem remendo e sem remédio.
São Paulo 1968