Bondes indo.
Bondes
vindo.
Carros vindo.
Carros
indo.
Mundo
lindo!
Maria
Zero.
Morreu marido,
Morreu menino,
morreram à míngua.
E ao nascer outro,
que nasceu morto,
Maria Zero
morreu,
também.
Bondes indo.
Bondes vindo.
Gente vindo.
Gente
indo.
Mundo
lindo!
Casa sombria,
casa quieta,
casa calma,
casa cheirando
o cheiro que cheirariam
assombrações maníaco-reumáticas,
caso
cheirassem.
Baratas indo.
Fantasmas
vindo.
Só a casa não ia nem vinha.
Casa besta.
Casa
original.
Casa linda!
Baratas lindas!
Fantasmas lindos!
Mundo
lindo!
Sábado-noite.
Homens indo.
Mulheres
vindo.
Homens e mulheres andando à toa,
como quem nada quer,
mas
querendo tudo.
Mulheres indo.
Homens
indo.
Domingo-cedo;
Dia com cara de domingo como todos os outros,
enfeitado
com hinos e liturgias.
Beatas indo.
Padres
vindo.
Sacristãos
nervosos
berram raivosos
com coroinhas,
que, temerosos,
tremem chorosos,
em ladainhas.
Amééééém!
Dia-todo
todo dia
bondes vindo
carros indo
homens indo
padres indo
vida indo
vida
vindo.
Todo dia
mundo
lindo!
Lindo, merda!
Linda merda!
Lindo, nada!
Todo dia,
mundo
fútil
mundo
inútil!
Porcaria!
São
Paulo 1966