AS MÃOS DE FELIPE

Erguendo a mão direita, em gesto intempestivo,
Cantor malabarista, mano a mano vivo,
Felipe é exclusivista; um bardo furibundo.
Felipe canta um tango e silencia o mundo.

E pobre do infeliz que, por qualquer motivo,
Intrometer no tango o seu grasnar imundo.
Felipe, fulminando o incauto patativo,
fuzila-o com a mão, num desdenhar profundo.

E nós que, por destino, somos o auditório,
E temos que escutá-lo ― e sempre embevecidos ―
rogamos que ele, ao menos, mude o repertório.

Que sorte não vigorem credos esquecidos
que amputam do culpado o membro vexatório;
um, perderia a mão! Os outros, os ouvidos!

São Paulo 1982


© 2022 Marcos Resende
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