SEGUNDO POEMA DAS IDAS E VIDAS

Se de onde venho, onde vou,
Indagam-me, no caminho,
Respondo sinceramente:
Estou vido de um silêncio
De noites que vi em claro,
De instantes, que, intensamente,
Igual ninguém eu vivi.

Suado venho da vida,
De uma batalha regresso.
Estou vindo de um congresso,
Do rugir numa tribuna.

Eu venho de uma oficina,
De uma batalha assassina,
Procurando ― que ironia,
Com o trabalho sem descanso
Na vida me defender.

Eu venho de um sono manso
No colo de uma mulher.
Do repouso numa rede,
De um rosário na parede,
De água fresca e mente calma.
Eu venho com sonhos na alma,
Trago amor no coração.

Do calor de uma ribalta,
Retorno cansado e rouco;
Da casa onde cantei, louco,
A canção de paz e guerra;
De onde se treme, se vive
E se chora de emoção;
De onde se canta e se ri;
De onde ilude-se a ilusão.

Chorei ao sentir-me fraco.
Tremi ao rigor do frio.
Andei pelo mundo todo.
Dormi molhado de chuva.
Cantei, quando assim podia.
E quando não, eu gritei!
Amei, vivi e lutei.
E fiz tudo intensamente.

Perguntaram-me aonde vou?
Não sei. Eu vou. Isto basta.

Vou para o alto dos coqueiros,
Vou para todas as festas,
Para o seio das florestas,
Vou pras danças nos terreiros,
Pra junto dos canaviais.
Vou para a beira das fontes,
Vou para o cume dos montes,
Para o meio dos trigais.

Vou para todas as terras,
Vou subir todas as serras,
Vou para todo o lugar.
Vou procurar as crianças,
Vou encher-me de esperanças,
Alegrias, bem-estar.

Vou inspirar os poetas,
Vou ensinar os estetas,
Vou a todos os planetas,
Até ao fundo do mar.
Farei a terra florir-se,
Farei o universo rir-se.
Farei o mundo cantar!

Dirão que sou impotente
Pra cobrir a tanta lida.
Mas não; sou a juventude
Tenho esperança na Vida!

São Paulo 1966


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