KARISME MUITO ACORDADA

ALUCINANTE E LINDA


Eu violei a clemência da penumbra 
― ela sorriu.
A bruma debulhou o sangue da manhã.
O sangue da manhã ― o sangue.
Esganiçado percutir embrutecido.

Envidracei o teu olhar no alumbramento
― estilhaçou.
Bebi da fonte imperecível
― pereci.
É vela, vai ― levanta
teu desespero acima de qualquer malícia.

Karisme,
joga o cântaro no regato,
lava a fímbria de teu vestido
e desmaia no verde,
que te quero ver-te
que te quero pássaro ambivalente e plenilúcido.

Ai, desenrolar de teus escrúpulos
alucinando as ramas,
esparramando rumos na explosão deserta.

Ah, desenvolver dos álamos nas alamedas
― meu peito é seco,
desgovernei o ritmo ensimesmado das torrentes,
e constatei o desespero dos séculos,
e espreitei o deboche dos pêndulos,
e emudeci na miragem dos pântanos.

Vai, Karisme em plenimar candente
― escureceu.
Eu me emprestei a sombra das grutas
e falei de crepúsculos.
Mas, teus lábios têm o mistério das maçãs:
adormeci.

Ah, Karisme, me fala.
É um lábio lânguido devassando lendas.
Volitar. Nuvem e nave. Névoa e tempestade.
Navegação costeira em teus cabelos tímidos.

Ah, solidão.
Soluço, solução inerte.
Meu peito no teu.
E a madrugada, vai, vacila desespera e fita
o embranquecer dos punhais na lua morta,
o soluçar do cais na tua porta,
meu coração pendente entre a alvorada e o dia.

São Paulo 1972


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