Jovem (não
sei) poeta (também talvez)?
E a memória de
situações
do tempo em
que eu-sensível preferia o sonho.
Balanço: algum
complexo,
alguma neurose
embutida,
e muita
dissecada e agora em pratos limpos.
Das buscas em
que eu, tentando enceleirar o sol,
levava a
língua e lança algumas verdades difíceis,
guardei
lembrança;
e tive em hora verde de amputar os nervos.
Suficientemente
lúcido para incensar profetas,
bastante
comodista para polir granitos,
quebrei a
minha fôrma de plasmar heróis,
sobrevivi ao sono de supor miragens.
Caminho agora
a passo de cautela,
tomando, dia a
dia,
a dose
calculada de estômago
para assumir a
vida e a engrenagem histórica,
sem cambaleios.
Não
descreio: avalio.
Não me
extasio: meço.
Não sinto:
racionalizo.
Não me desespero: busco.
Esclareço: não
fui ao Ganges;
ainda me
verruma o estigma de outros dias,
antigos
preconceitos, vez por outra, voltam;
acordam do cofre. E eu lhes dou comida.
Poeta, quando
urgente expor algum colhido;
recado
transmitido ― recolho-me ao garimpo.
À procura da
palavra, pesquiso, e ao colher ideia,
com sobriedade
a analiso
numa rede
fechada e fértil de amigos,
num campo
possível e tangível,
sem possibilidade de equívocos.
Sem o
entusiasmo de mover agora
o que
evoluirá, imperceptível ― ao envelhecer
do tempo, do
homem e da cultura,
suporto. Não
agrido. A todos me nivelo em hábitos
e horários,
como todos me
alimento de feijão e sono;
de longe em
longe, bebo de algum ópio coletivo,
e, se preciso,
faço de
algumas ilusões privadas
o meu sedativo, impelido pelo intento de seguir
vivendo.
Mas, nunca me
furto: convivo.
Manipulando a
dúvida, reconsidero e busco;
e cada
manifestação da natureza e do homem
me servem de
estímulo,
laboratório,
matéria prima, pretexto e perspectiva
de aprender a apreender a vida.
P.S.: Cléo,
como a todas as sementes, eu a vejo com olhos limpos, e, como a todos os
idealistas de esperança fixa, uma realizável hipótese de alterar a paisagem.
Varginha 1969