PARA KARISME

ENQUANTO NÃO ACONTECE NADA

Mas, o que é isso?
De repente, eu tento. Tente.
Tonto. Tanto entroncamento.
Eu muito à vontade
numa isolação irracional.
Com a certeza tesa
de que já não existe mais nada por acontecer.

Karisme, o que é isso?
Eu me vejo de repente roendo o seu pescoço.
É como se houvesse um osso e um dente único
canino
canhoto
que rói rói rói.

É dor, Karisme e eu me aparto da tristeza e do ódio,
mas acuso: dói.
É como se ninguém mais fosse.
É como se ninguém mais desse.
É como se ninguém morresse.

Rói, Karisme, temperamental e ausente.
Morde nos teus dentes minha ausência e sangre.
Embrenha, berre, sangue, alunação pungente.
Eu me dou inteiro: corta, é teu
 evolução na lama, aurore 
eu mato: entenda.

E vagarosamente me descolo de teu colo cálido
com a mansidão macia das serpentes.
Pisa, é teu.
É dor e dói, mas pisa.
Faz acontecer amor a mais,
amai, mas crede, crie.
Grite 
 endoideceu o dia.
Debrucei demais num desespero, acorda!
Vem, que eu faço ficar roxo,
nem que o dia se funda em maldição total,
nem que eu me gangrene todo na descoberta de teu ódio,
nem que eu me despedace e me esfacele no teu vômito,
nem que eu morra... Mate e me olhe: crie!
                                                                                                  Varginha 1973


© 2022 Marcos Resende
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