CALEIDOSCÓPIO


Um dia, comprei um caleidoscópio.

Eu me lembro de que todas as vezes
em que a tristeza era maior do que eu mesmo,
deitava-me na cama, e com ele virado para a luz,
fugia da tirania do mundo,
e mergulhava em alegrias e cristais coloridos.

Naqueles instantes sublimes eu não sofria
porque todas as cores transmitem felicidade.

E que gostoso era nunca poder prever
a forma que surgiria em seguida.

Passava horas o admirando,
jamais senti angústia ou tédio.
Nunca se sabe o que acontece num caleidoscópio,
pois, nunca se chega a conhecê-lo.

Caleidoscópio.
Ilusão de ótica.
Espelhos e cores.

Vida.
Festas, bailes, casamentos.
Conversas, risos e ilusões.

Sou um frustrado.
Gostaria de voar.
Muitas vezes saí correndo
e dava pulos para ver se flutuava.
Ou então, segurava um guarda-chuva
e esperava horas infidas que o vento me levasse pelo ar.
Depois, cansado e melancólico,
me considerava o ser mais pesado da Terra.

Mas, no mundo do caleidoscópio
não existe frustração nem amargura.
É um céu de cores onde se sucedem felicidades.

Ai, vida triste.
Ai, vida má.
Ai, vida desesperadora.
Que pena que você não é um caleidoscópio.
                                                                                                       Varginha 1966


© 2022 Marcos Resende
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