Karisme, Karisme, não vacile, não cometa. Não existe mais perigo em meu planeta, não.
Pulei estrelas e estradas, vaguei viagens, vinhedos, planei penhascos e andrômedas e vinguei voar ligeiro, pelo cheiro dos moluscos, pela fome dos desertos.
Karisme, Karisme, não respire, não rejeite, não respeite o peito seu em polvorosa, não.
Rompi roupagens e panos, rumei o meio dos medos, desfiz o fio das brumas e em algumas, renasci, pelo cheiro dos crisântemos, pela fome das sementes.
Cacei caçambas à toa. À tona então me voltei. Verti ao sumo das águas, várias vagas conheci, pelo cheiro das anêmonas, pela fome das mandrágoras.
Karisme, Karisme, vamos ao campo, que não tarda o amadurecer das amapolas, e as rolas nos primeiros passos, com os primeiros pássaros passeiam pelas flores entreabertas. Não custa. Acorde. Surja na manhã mañana. Carece de você o orvalho, o vegetal, o tempo manhoso. Acorde.
Esparramei você nos pólens dos gerânios, antes das chuvas. Esparramei você nos pólens de gerânios escolhidos. E permaneci na espreita, como em desespero, como em desenlace.
Fugi do fogo e da fúria, furei o inferno de cera, assim, refiz meu silêncio. Expus espasmos e penas, apenas pisei o pó. Enlueceu na alameda e na lenda luarou. Karisme, cara, carinho. Carência, crise, canhão
Karisme, carabina-cano-cal e tempestade. Estrela e trilha ― lagoa flácida de luz. Enlueceu, enluejou ― eu vago, vogo, volto e vou e venho e sou: sol esquartejado, submerso em suas mãos.
Os figos já se desprendem dos caules. As romãs estilhaçadas estalam e se extrovertem, enquanto seus bagos vermelhos perdem o viço. Os últimos lenhadores desocupam. Desacampam. E sonolento e lento lá se vai bem longe o canto das mulheres que colheram o trigo. ― Estrela entre as estrelas, venha ver o vale: os figos já se desprendem dos galhos e as fiandeiras se debruçam nos fusos.
A cotovia buliu nos pingentes de pedra. A embarcação cursou os espinheiros confusos. E tudo se arrumou em seu lugar de origem.
Venha, virgem, ver o sangue das clepsidras desfeito em vinho, em vão, em uva, em chuva, em mel, em mirra, na manhã mañana.
Venha, virgem, agora, embora a relva não conserve a mesma seiva e as madressilvas quase desfaleçam. Venha, antes que desfaleça eu mesmo de amor, pois, sua ausência embruteceu meu sono pungente e insolúvel, descrente e desnudo, consciente de tudo, consciente e contudo carente de paz.