GUERRA-PRESENTE

                             I

― O que há por trás de um amor?

― A guerra!
― O que há por trás de uma criança?
― A guerra!
― O que há por trás de um passarinho?
― A guerra!

A ameaça paira no ar.
Os rios se evaporam muito depressa
e há nuvens pesadas no céu.
Pesados são os ânimos.
Pesado é o ar que se respira.
Pesadas são as aranhas
construindo suas teias clandestinas.
E a manhã é silêncio...
E no céu,
nuvens negras vaticinam negra tempestade.

                              II

Tudo é espera e incerteza.
E o mundo são jovens se casando nas moitas e nos templos.
E o mundo são crianças chorando por brinquedos
e um berço forrado com matéria plástica.
E o mundo é uma marcha de massas,
com gargantas ressecadas
e corações petrificados, berrando pelas armas.
Uma flor e uma abelha.
Corações acelerados.
Um passarinho e um gorjeio.
Vozes roucas odiando.
Um grito sem eco.
Vários gritos sem resposta pelo campo de sangue
E afinal o silêncio.

                             III

A lua era vermelha
e chegou mais tarde naquela noite.
As estrelas morreram
e o céu estava escuro.
O vento soprava frio,
cantando o calado pela Terra vazia.

E os homens dormiam na cama fria das tumbas e das ruas.
As mulheres não esquentariam a sopa nem o leite inútil.
As crianças, nos ventres das mulheres, não veriam o sol.

Se alguém pudesse olhar a lua naquele instante,
veria a sombra de um dragão que voejava pelo mundo
e dava gritos histéricos,
adormecendo todos com seu hálito de ódio.
Varginha Agosto 1966

© 2022 Marcos Resende
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