Ah, que eu juro que
tua festa é minha,
e minha a dança
enfurecida de teus pés morenos.
Ah, que eu me
esparramo inteiro em teu caminho,
Me abrindo como fruta
ao gume de teu corpo,
sangrando como sol
pisado por teus pés.
O que eu queria mesmo
era sentir-me preso
aos elos de tua voz
ditando-me caprichos,
ao teu menor desejo,
às tuas neuroses,
ao teu chicote morno,
ao teu pior castigo.
O que eu preciso
mesmo é ver-me escravizado
à fera que há em ti e
que tão bem ocultas,
à ilucidez perversa
de teus sonhos soltos,
aos saltos das
sandálias me cortando o dorso.
Ah, minha tirana,
flor neurótica, rosa
de quatro espinhos,
dilacerante
lua ― eu quero teu domínio.
Eu quero o teu
fascínio,
extravagante estrela,
me embrenhar, me
embriagar em tuas armadilhas,
em tuas maravilhas me emaranhar.
São Paulo 1980