DRAMA
A família, sorrindo, caminhava
descalça,
carregando um pequeno ataúde
sobre o solo nordestino.
As
enchentes vieram,
O
nordestino perdeu tudo.
A
seca chegou,
o
nordestino fugiu.
O gado
morreu;
o
nordestino passou fome.
O
solo secou,
a
peste surgiu.
e o filho faleceu levado pela Providência.
E
o nordestino chorou lágrimas secas
por
seus filhos,
que
se iam,
tragados
pelo mar de poeira árida.
Seu coração gemeu.
Porém,
seu pedido de socorro misturou-se
com
o uivar do rodamoinho de pó,
levantado
pelo Simum da Demagogia.
E os irmãos, não ouvindo seu lamento,
cuidaram
de seus próprios problemas.
Os
governantes continuaram abrindo estradas,
o
progresso caminhava aproveitando a ajuda
negada ao Nordeste, que se extinguia em pestes.
A
família,
com
a sensibilidade secada pela ausência de compreensão,
ia sepultar o mártir do abandono.
As
crianças sorriam.
Os
mais velhos falavam.
E caminhavam unidos para o desespero.
São Paulo 1965