Tirei
meu coração do gelo
e procurei, sequioso, o caminho de uma aurora.
Quebrara-se
em mim o lirismo balofo
de
visualizar em olhos maquiados,
a
suavidade de um sol recém-nascente.
Lutei
contra todo o desejo de morte
e
agarrei-me com este violento apelo de vida
que
retumba,
igual
clarim,
em meu dínamo de sangue.
Aproximei-me
do mar.
Sorvi
suas águas,
deixei-as
escorrer por minhas ávidas narinas
e segui avante em novas descobertas.
Quantas
sensações inéditas
filtram-se
por meus nervos de granito
à espera de perfeita integração.
Saí
correndo,
descalço,
pelo campo verde,
e
misturei garganta e pulmões com o vento
num grito prolongado de ressurreição.
Senti-me
um homem renascido
e
me atirei à terra fofa,
na
hora mágica e que céu e terra se unem
em
cântico de tolerância.
Provei
do sabor místico da terra
untada em saliva.
É
o instante supremo em que a vida
se
torna imperiosa.
É
o alambique das sensações
destilando
o fluido vital.
A
morte, inútil, foi trucidada
e
não é mais que sombra
de
fumo esvoaçante.
Tirei
meu coração do gelo
e procurei, sequioso, o caminho de uma aurora.
Anjos,
ultranjos e superanjos, atenção:
Poli
vossas trombetas!
Ruflai
vossas asas!
Preparai-vos para vossa cena em meu Apocalipse
particular!
São Paulo 1967