Meu caro e estimado amigo:
eu, quando te ofendi de modo frívolo e inconsequente,
deixando a ira e a inconsciência
falarem por meus lábios,
não imaginava o quanto é duro
prestar-lhe contas por atos impensados.
Tu que por estima me elevaste
a um alto e perigoso altar,
aprendeste, um pouco tarde, como eu sou:
irracional, a ponto de ferir;
orgulhoso, a ponto de não aceitar
uma justa admoestação.
Entre os humanos possuo imperfeições
― e não o notaste.
Entre os vaidosos escrevi meu nome
― e não o percebeste.
Entre os raivosos edifiquei minha tenda
― e não a viste.
Ator eu sou, a ponto de ocultar
todos estes vícios que agora conheceste.
Aprendeste um pouco tarde, como eu sou,
sentindo na própria carne,
o punhal de meus defeitos múltiplos.
E tu ― que longe disto ― és puro, bom e manso,
sofreste esta cruel decepção
pela estima imensa que me dedicaste.
Aprendeste um pouco tarde como eu sou:
irracional, a ponto de ferir-te,
orgulhoso, a ponto de não aceitar
tua justa admoestação.
Desculpas não te peço ― aprendi de ti ser homem,
e aceitar as consequências de todas as ações,
mesmo as infantis e tolas.
Mas, sabe que as lamento e muito!
Não importa o que eu te disse
Não importa o que falei naquela hora má.
Importa que feri um sentimento teu.
Se alguém me perguntar o que eu disse ou fiz,
direi que magoei, irreparavelmente,
alguém que foi, será e é maior que eu.
Varginha 1967